BR.RJ.COC.OC.COR.PES.1.8
Jardim, 10 de Abril de 1891
Minha boca Miloca.
Miloca! É esta a palavra que me parece ouvir a todo o instante; é este ente, para o qual convergem todos os meus pensamentos, que aparece diante de meus olhos a todo o momento em todos os lugares; é ele que sempre risonho se me apresenta, consolando-me dos infortúnios; é a ele a quem eu adoro com todo o fervor, a quem dirijo todas as minha preces; e é a ele a quem, agora eu peço um sorriso, um carinho, um consolo.
Eram hoje 6 horas da manhã, quando os tímpanos do telefone advertiram que alguém desejava falar conosco; era teu pai que me chama para tratar-lhe o ferimento da perna. Impossível é descrever-te, meu querido anjo, a tempestade que passou dentro de mim: era necessário que eu fosse à tua casa, que fossem em pessoa ver aqueles lugares em que nós estivemos juntos, o lugar em que nos despedimos, aquele em que me foste dada, enfim era necessário que se despedaçasse o meu coração, que todo o meu ser se transforma-se em lagrimas; que fazer? Lá fui. Encontrei felizmente a casa isolada; teu pai tinha ido ao Vidigal, Julia acalentava a filha que chorava, entrei para a saleta; estava tudo disposto como no ultimo dia em que estivemos juntos; aquela cadeira de braços em que estiveste sentada lá estava; a outra cadeira pequena onde eu estava sentado, recebi de tuas mãos a pulseira que guarnecia teu lindo braço e que hoje ainda ao meu é meu único consolo, meu único alivio, jazia ao pé da outra. Escusado é te dizer que não pude ficar ali por muito tempo; dirigi-me à janela para furtivamente enxugasse as lagrimas, que, quentes, apaixonadas, corriam-me pelas faces; mas, oh desespero, com toda nitidez se me afigurou o quadro do que de manhã se tinha passado n’este outro ponto, tu, recostada ao peitoril, lavada de lágrimas, fugindo à curiosidade infantil da Minça, que se comprazia em ver o teu martírio. Fugi d’aí e fui para a sala de jantar, onde solucei muito e muito para aliviar o meu desgraçado coração. Estava entreaberta a porta do teu quarto; furtivamente, às escondidas cheguei até ele e olhei para o interior; ao abrir a porta um aroma angelical me cercou, fiquei como que endeusado com aquela fragrância que me fazia corajoso para suportar o atroz peso da cruel separação; vi o teu leito; vi o teu cobertor cor-de-rosa, e, não me pude conter, minha Miloca, perdoa-me a ousadia, atirei-me para ele doido e beijei-o muito, muito e muito; estes momentos meu anjo, juro-o, passivos feliz. Estava eu assim alagada em lágrimas, recordando-me d’aqueles instantes felizes de minha vida, que passava ao lado de ti quando ouvi o rodar de carros que trazia teu Pai; mudei-a fisionomia, fingi-me de alegre e fui pensar-lhe a ferida, que, felizmente está quase sarada.
O martírio por que passei hoje, como vês foi grande.
Adeus, minha idolatrada Miloca, lembranças à boa D. Elisa e a todos.
Aceita e transmite à tua boa mãe e a todos as saudades de todos d’aqui de casa, onde imperam despoticamente a tristeza e a saudade.
Aceita, minha amorosa e boa noiva, um beijo ardente de teu saudoso noivo que te adora
Oswaldo
P.S. Miloca não deixes de pôr nos subscritos das cartas que me dirigires a palavra “Rio de Janeiro” porque de contrário elas não vem ter aqui. Me escreve todos os dias, sim?