BR.RJ.COC.OC.COR.PES.12.14

1 de Junho de 1915

Minha Miloca mui querida

Como já me custa suportar a tua separação. E por mais que eu queira daqui não poderei sair tão cedo. A Sinharinha encarregou Mamãe de me pedir que daqui não me ausente. Ainda ontem tarde da noite a Sinharinha me telefonou porque estava se sentindo muito mal, com pontadas no coração, etc. Ela se tem amofinado muito porque não encontrou alugador para a casa e os poucos recursos que ela tinha conseguido juntar estão quase a se esgotar. Os automóveis não dão senão para pagamento das dividas da garage. Enfim é uma situação angustiosa e justamente agora não posso desampara-la. Naturalmente com o parto de Armita, as despesas extraordinárias e uma série de complicações de vida que eu devo atender se estiverem em minhas mãos as soluções necessárias. – O tempo aqui continua péssimo no que se refere ao calor: estamos em verdadeiros dias de verão. Domingo passado Mamãe passou-o comigo na Praia. À tarde mandei-a levar no automóvel do Andrade. – Ontem Maria Luiza me telefonou para pedir noticias minhas e me disse que o Bento está muito bom. Eles se entendem porque me parecem muito iguais. Acabou o telefonema me pedindo para mandar endireitar o automóvel do Bento. As nossas finanças, como, aliás, a de todos, vai mal. Os inquilinos que pagam fazem-me tardiamente e com dificuldades. Dizem que há atualmente no Rio 15.000 casas vazias! E na realidade, o numero de casas com escritos é enorme. Casas que se alugavam por 500 estão vazias, apesar do aluguel ter sido diminuído a 300!! Não há mesmo dinheiro. Só à França o Brasil está devendo 3 bilhões de francos dos quais nem os juros tem sido pagos! Foi para reclamar isso que o [?] aqui esteve e nada conseguindo.

O Guilherme continua na Praia arranjando as jardineiras para as janelas. Imagina que são 60! O José está ressentido de ser criado antigo; dando-se [?] as regalias de grande senhor. É preciso que a castelã volte para pô-lo no caminho ou manda-lo bugiar. Isolina continua magnífica cozinheira e péssima copeira e arrumadeira. E cada vez está mais hábil em tudo quebrar. Creio que não temos mais louça alguma. – Imensas caricias a nossos filhinhos. Recebi de [?] um galhinho de arvore que ele me mandou pelo Bento. Como fiquei sensibilizado! Agradece à Lizeta as cartas carinhosas que ela sempre me envia. Saudades a tua Mãe e Lizoca. E tu, minha mui querida e adorada, aceita os mais carinhosos beijos e afetuosas saudades de teu saudosíssimo Oswaldo.

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