BR.RJ.COC.OC.COR.PES.6.10
Porto Velho, 13 de julho de 1910
Minha querida Miloquinha
Apresenta-se-me hoje a oportunidade de te mandar algumas noticias. De saúde vou admiravelmente fazendo uso diário de quinina. Fiz ontem o percurso de toda a linha até a extremidade dos trilhos: cerca de 120 quilômetros. Saímos ás 7 h. am e viajamos, parando apenas para o almoço até 10 horas da noite. Fomos além do rio Jacy-Paraná. Estudei os acampamentos dos empregados e fiz as indagações que se me afiguraram de utilidade. A linha é admirável, rasgada toda no meio da floresta virgem oferece espetáculo grandioso, mostrando a riqueza considerável deste verdadeiro El Dorado: É de lastimar que a tanta riqueza esteja associada a Morte: onde não reina exclusivamente o impaludismo de caráter pernicioso impera o beri-beri.
Nada temos, porém, a recear: os cuidados meticulosos que temos hão de nos preservar, como preservados estão todos os médicos que aqui residem.
Minha vida aqui tem sido de trabalho em que procuro afogar o caudal de saudade que me devora. Levo a examinar os numerosos doentes existentes no hospital, ao lado de que moro, trabalho no laboratório, estudo embriagando o tempo afim de que não faça muito sofrer esta ausência da família.
Estou tudo dispondo para sair daqui dentro de 15 a 20 dias e se assim for, aí estarei na primeira quinzena de Setembro. Pelo telégrafo um fio te passei um telegrama noticiando minha chegada aqui. Creio que de V.V. não terei noticias senão na volta! As comunicações para aqui são tão difíceis!
Adeus minha querida, beija e acaricia muito nossos filhinhos. Pede ao Bentinho que estude bem. Saudades a todos, muitos beijos Mamãe a quem peço dês noticias. Saudades carícias e beijos
de teu saudosíssimo Oswaldo